Neste tempo tão especial, ponho-me a pensar como teria sido a primeira celebração natalícia desta Santa Casa, no ano de 1678!
Muita Paz? Muita alegria e festas? Toda a gente satisfeita com o estado geral do país? Uma esperança inconsciente num ano próximo cheio de ventura e prosperidade?
Não! Infelizmente, não. Pouca ou nenhuma alegria. Uma incerteza consciente num futuro que todos temem. O medo de andar nas ruas, o medo de nova invasão estrangeira, o ataque e a guerra generalizada nos nossos territórios ultramarinos, a certeza da doença e da morte nunca assistidas e a generalizada desconfiança num Céu cada vez mais longe. Para mais, um desgoverno politico constante com um rei exilado, agora e por alguns anos, aqui perto, no Paço de Sintra, e a usurpação do trono e da mulher escolhida para rainha por um outro príncipe vertiginosamente talhado para o governo do reino.
Que fica então na memória da terra nesta recordação tão negra?
A urgência de se disponibilizar para ajudar o próximo a todo o custo. O desejo de fazer o Bem numa terra infestada da mais violenta pobreza, estritamente resignada ao que o mar por vezes, lhe dava. Nas praias, onde o sol pouco aquecia, o perigo constante do mouro que tudo pilhava e qualquer raptava…
A sensibilidade e o supremo gosto de oferecer o pão a quem o pede e, sobretudo, a Fé na intercessão da Virgem Maria, senhora da Misericórdia que sempre acorre a quem Lhe pede.
339 anos depois, num ambiente certamente diferente mas igualmente atribulado queremos manter o propósito inicial, o projecto fundacional da Santa Casa da Misericórdia da Vila da Ericeira, sem qualquer alteração ou acréscimo: o Bem do nosso próximo!
Julgamos preencher assim o sonho de quem nos instituiu e repetir dele e com ele, a sua divisa de Cavaleiro Templário: – “Non nobis Domine…” Nada por nós Senhor! Tudo pela glória do Teu nome.